Alessandra Corrêa
A probabilidade de a epidemia de ebola chegar ao Brasil até o fim do mês é de 5%, colocando o país em último lugar em uma lista de 30 nações com maior risco elaborada por pesquisadores da Northeastern University, de Boston, nos Estados Unidos
O percentual é o maior entre países latino-americanos, mas ainda assim considerado baixo pelos autores do estudo.
Segundo o pesquisador brasileiro Marcelo Gomes, um dos autores do estudo, em um segundo cenário analisado, quando se leva em consideração uma redução de 80% no tráfego aéreo internacional entre o Brasil e os países da África Ocidental mais afetados pela doença, a probabilidade de o Brasil registrar um caso cai para cerca de 1%, fora da lista dos 30.
"Nosso entendimento é de que o cenário mais adequado, no momento, é esse, o que leva em conta a redução de 80% no tráfego aéreo", disse Gomes à BBC Brasil.
"Isso por conta da atual notoriedade pública dos riscos associados a esta doença, o que leva a população a evitar viagens aos países afetados, naturalmente reduzindo o tráfego aéreo entre os países", ressalta.
O coordenador da pesquisa, Alessandro Vespignani, reforça que a probabilidade do Brasil é muito baixa.
"Se você está no grupo dos 1%, obviamente sua probabilidade é muito baixa e é bem provável que você não registre importação de casos. Mas não existe a probabilidade zero", disse Vespignani à BBC Brasil.
Vespignani acredita que, caso o ebola seja diagnosticado no Brasil, seria um surto de pequenas proporções. "Poderia haver transmissão no lar do paciente, ou entre as equipes de primeiros-socorros. Então poderia se esperar dois ou três casos no máximo."
Risco global
Se no Brasil o risco é considerado baixo, na Europa é relativamente alta a probabilidade de que alguns países sejam atingidos pela epidemia até o fim do mês.
Na França, chega a 65%. Na Grã-Bretanha, é de 50%. Caso haja restrições ao tráfego aéreo, essas probabilidades caem para 25% na França e 15% na Grã-Bretanha.
Para mapear o risco global de contágio por ebola os pesquisadores vêm analisando informações sobre 220 países, avaliando padrões de dispersão da doença e dados sobre tráfego aéreo, já que o grande fluxo de passageiros ao redor do mundo pode facilitar a dispersão do vírus.
Segundo Gomes, é exatamente o tráfego aéreo mais intenso, principalmente nos aeroportos do Rio e de São Paulo, que fazem com que a probabilidade calculada para o Brasil seja maior do que a de outros países latino-americanos.
O estudo foi divulgado inicialmente pela publicação científica PLoS Current Outbreaks no mês passado e tem sido constantemente atualizado, já que os riscos mudam a todo momento.
Os dados mais recentes, atualizados nesta segunda-feira, calculam a possibilidade de países importarem casos da doença até 31 de outubro.
Evolução
O atual surto de ebola, iniciado em março, já infectou 7,5 mil pessoas e causou 3,4 mil mortes. Os principais países afetados são Libéria, Serra Leoa e Guiné, na África Ocidental. Também já foram registrados casos na Nigéria e no Senegal.
Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram o primeiro caso de ebola diagnosticado em seu território. O paciente é um liberiano que viajou ao Texas e só apresentou sintomas dias depois de chegar ao país.
Nesta segunda-feira, a Espanha confirmou que uma enfermeira diagnosticada em Madri foi a primeira pessoa a contrair o vírus fora da África.
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