Navegar no Pantanal, é seguro?

Minha avaliação sobre as tragédias ocorridas na navegação fluvial



Acostumado a singrar os rios pantaneiros nas gravações do programa Vivendo a Vida, tenho tido o privilégio de conviver com profissionais competentes e determinados. Seja na condução das grandes embarcações, dos botes de alumínio ou mesmo no atendimento interno dos barcos hotéis e pousadas, convivo com pessoas dedicadas e que, nos últimos anos, têm se aprimorado naquilo que fazem, mérito também dos empresários que vêm investindo em suas equipes para melhorar o atendimento aos seus clientes.

Muito me entristece ter que noticiar naufrágios e mortes em nossa região. Uma colega jornalista que trabalhava junto com sua equipe, um militar, tripulantes de uma embarcação, turistas que vieram viver as maiores emoções que o Pantanal pode proporcionar. Gente que, de uma forma trágica, se foi e causou comoção, dor e dúvidas.

Mas, dúvidas a respeito de que? É que, com tudo isso, a primeira interrogação que aparece é sobre a segurança da navegação. Acompanho esse trabalho, até porque é de meu interesse, já que viajo nessas embarcações. Em Corumbá os barcos hotéis vão para o estaleiro uma vez por ano e passam por uma revisão completa. A Capitania Fluvial do Pantanal só libera a licença de navegação depois de fiscalizar e, em alguns casos, é feito até um ultrassom no casco da embarcação. Isso sem contar com as vistorias nos rios.

O próprio capitão Muller, comandante da Capitania Fluvial do Pantanal me disse que, "há muito tempo não registramos nenhum acidente com barcos hotéis aqui na região pantaneira. Isso também em razão da conscientização dos proprietários dessas embarcações". E realmente é, tenho tido essa prova no meu cotidiano. Há segurança na navegação na região pantaneira e isso eu confirmo como jornalista que acompanha as notícias, como apresentador e editor chefe do programa Vivendo a Vida, voltado à pesca, e como pescador, amante do Pantanal, da natureza, da emoção de uma boa pescaria.

Com relação ao naufrágio do empurrador da armada boliviana, o fato vai ser investigado pela própria Marinha da Bolívia. Mas já se sabe que o que provocou o acidente foi uma barcaça que estava sendo empurrada à sua frente. A chata afundou e levou consigo o navio. A Bolívia, todos sabem, é um país pobre e com muitas deficiências, mas não se pode dizer que houve negligência ou falta de manutenção da barcaça.

Já com relação ao barco hotel Sonho do Pantanal, ou Sueño del Pantanal, já que ele tinha bandeira paraguaia, a tragédia foi maior e ainda mais comovente. O barco virou com uma lufada de vento de 150 km por hora. Nele estavam 11 tripulantes sendo o comandante, o maquinista, o marinheiro de convés, os piloteiros, o cozinheiro, os garçons. Todos trabalhadores que lutavam no dia a dia para sustentar as suas famílias. Havia também 16 turistas vindos do norte do Paraná, realizar o sonho de pescar em um dos lugares mais cobiçados do mundo.

O barco regressava da pescaria depois de alguns dias de viagem. Estava em frente à cidade de Porto Murtinho há poucos metros do atracadouro. Com certeza pode-se dizer que estava no lugar errado, na hora errada. Em princípio, pode-se dizer tranquilamente que não foi falta de manutenção, de procedimentos de segurança, mas um acidente trágico, daqueles em que todos querem encontrar explicação para justificar tamanha catástrofe.

Com tudo isso, pode-se dizer que, são muitos mais acidentes de avião do que de barco. Morre-se muito mais nas estradas do país do que nos rios pantaneiros. Ou seja, navegar no Pantanal é seguro, pescar no Pantanal é uma das melhores aventuras que se pode ter na vida. O contato com a natureza é rico, lindo, energizante. Infelizmente, acidentes acontecem, vidas se vão e a dor machuca, maltrata e judia. Concluindo: a vida é passageira e, nela, a única certeza que temos é de que um dia, iremos morrer.

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